
“Nasce” quase morta
Patativa-tropeira, nova descoberta no Cerrado, voa num ecossistema quase extinto e já está ameaçada de extinção.
Com uma plumagem entre o azul e o cinza, a Sporophila beltoni, batizada popularmente como patativa-tropeira, é uma nova espécie de ave que só ocorre no Brasil e foi descoberta por ornitólogos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. O nome popular é alusivo aos limites da área de reprodução e regiões por onde a ave migra. Essas áreas coincidem com as regiões da rota que os tropeiros utilizavam no Sul do Brasil no século XVIII para conduzir rebanhos e carne seca que seriam comercializados no Sudeste.
O anúncio da descoberta foi feito no periódico estadunidense The Auk – American Ornithologists’ Union após mais de oito anos de pesquisas conduzidas por Márcio Repenning e Carla Suertegaray Fontana. A ave ocorre no Cerrado e nos campos de altitude associados à Floresta com Araucárias, ecossistema brasileiro quase extinto.
A ave já era conhecida, mas acreditava que era da mesma espécie que a patativa-verdadeira (Sporophila plumbea). Mas ela tem plumagem e canto diferentes e comportamento diferente.
A patativa-tropeira ocorre do Rio Grande do Sul a Minas Gerais, nos biomas Mata Atlântica e Cerrado. A espécie já ‘nasce’ ameaçada. Um dos motivos dessa realidade é porque a sua reprodução acontece nos campos naturais em bom estado de conservação das regiões altas e montanhosas do Sul, como os Campos Gerais do Paraná, o Planalto Catarinense e os Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul, sempre em áreas junto da Floresta com Araucárias, ecossistema bastante ameaçado.
As pesquisas indicam que existem 4.500 casais na natureza, número considerado baixo para aves.